Um tributo às nossas queridas babas

Feliz dia 8 de Março! Neste 8 de Março gostaria de dizer um grande obrigada à aquelas senhoras (e alguns poucos senhores) que facilitam as nossas vidas cuidando das nossas crianças.

Vivo numa cidade onde não nos podemos permitir uma babá a tempo completo e as crianças só começarão a creche a partir de Agosto de 2019. Assim sendo, passo muito tempo com as minhas crianças, cuidando, brincando, discutindo…

Esta tarefa de cuidar de ‘pessoinhas’ é bastante árdua e implica pelo menos para mim estar activa em várias vertentes:
  1. Fisica. É necessária energia para literalmente mover-se – carregar brinquedos, arrumar roupa, limpar, cozinhar; para carregar as crianças – porque querem ou precisam estar no colo, porque caíram e precisam ser levantadas, porque querem alguma coisa que está muito alto para pegarem sozinhas e já apontaste para tudo e a resposta delas continua a ser ‘não, aquilo mamã!’; para produzir leite para quem decidiu amamentar e dar de mamar; para levar as crianças à passear – se residem num prédio implica descer e isto pode implicar carregar uma ou todas as crianças, levar os brinquedos ou bicicleta ou seja lá o que for necessário.
  2. Emocional. Precisa-se de um minimo de bem estar emocional para não se andar aos gritos com as crianças e em vez disso poder explicar seja lá o que for. As crianças podem ser muito doces mas também têm a incrível capacidade de tirar a qualquer pessoa de sí. O bem estar emocional também é necessário para podermos escutar a nossa intuição – aquela vozinha que diz ‘vai ver se está tudo bem na sala’ e quando chegas lá uma das crianças estava em cima de uma cadeira para tirar uma garrafa numa estante porque decidiu que queria tomar xarope, ou que te faz de repente olhar e estender os braços e acabas segurando a criança que estava a cair de cabeça.
  3. Criatividade. Por exemplo, nós decidimos criar as nossas crianças com pouco tempo de ecrã (seja TV, computador, tableta ou telefone), elas assistem desenhos animados durante poucas horas no sábado e no domingo. O resto dos dias (apesar de a minha filha pedir para assistir vídeos, como ela diz) precisam ser entretidas de outras maneiras. Fazemos várias coisas, entre elas cantar, dançar, pintar, tocar instrumentos musicais, ler, martelar coisas, fazer puzzles, fazer bolos e biscoitos, entrar na e ligar os butões da máquina de lavar roupa, desarrumar as panelas e bate-las no chão (felizmente o vizinho de baixo ainda não veio tocar a campainha), regar, cheirar e tocar as plantas, passear e ir a ‘parquinhos’. Mas nem sempre é possível fazer todas as coisas, porque não apetece a elas ou a mim, por causa do tempo ou da saúde de alguma de nós. E aí, preciso ser criativa e reinventar o que ja fazemos ao mesmo tempo incentivar lhes a brincarem juntas e também sozinhas.
  4. Informação. Não nasci sabendo cuidar de crianças e, para poder fazer as minhas escolhas preciso estar informada. Ainda por cima, decidi ser mãe nesta era de avalanche informativa onde para encontrar o que achamos que procuramos precisamos ler tantas outras coisas, muitas das quais inúteis. Esta tarefa leva bastante tempo e energia.

Mesmo desenvolvendo estas habilidades, não consigo fazer tudo o que gostaria de fazer com as minhas crianças nesta fase da vida delas.

Poderíamos prescindir das babás?

Em Moçambique a licença de maternidade é de apenas 2 meses e escasseiam creches a preços acessíveis e de qualidade. Existem mulheres que 2 meses depois de terem tido a sua criança se sentem prontas para voltar ao trabalho. Mas também há mulheres que sentem que não estão prontas para deixar seus bebés e colocá-los numa creche.

Algumas podem apoiar-se em algum membro da família do sexo feminino (sobretudo nos primeiros meses de retorno à vida laboral) mas muitas acabam contratando os serviços de uma babá.

Os serviços oferecidos pelas babás têm contribuído para a presença de mulheres trabalhadoras no mercado formal. Elas permitem às mulheres (não tanto os homens porque a sociedade espera, injustamente, que essa tarefa será principalmente das mulheres) voltar ao trabalho ou iniciar um trabalho fora de casa, seja por conta própria ou de outrem.

Expectativas altíssimas

Neste mês de Março penso nestas senhoras que por um lado nos permitem à algumas mulheres perseguir uma carreira e/ou estudar e por outro lado são aquelas pessoas à quem confiamos os cuidados de nossos bebezinho fofos e tão importantes para nós.

Penso na pressão que muitas vezes colocámos sobre elas para serem ‘como ou melhores que nós nos cuidados das nossas crianças. Para serem perfeitas, o erro nelas é muito pouco tolerado.

Penso em como a saúde delas provavelmente se deteriore rápido ao dormirem pouco para poderem chegar ao serviço a tempo suficiente para as mães e/ou pais chegarem a tempo aos locais de trabalho e despegarem depois destes voltarem do trabalho. Muitas delas saem de casa e voltam para casa quando já está escuro. Provavelmente vivam para trabalhar.

Penso nas gincanas que elas devem fazer para trabalharem as 1.000 horas que trabalham, passarem muitas horas no ‘chapa’ para chegarem a casa cansadas, e tentarem ter algum tempo de qualidade com a família, se calhar tenham crianças da idade da criança que cuidam e gostariam de ter podido brincar um pouquinho que fosse com ela ou escutá-la contar as aventuras do dia.

É verdade que as vezes cometem erros graves, mas muitas vezes são erros num contexto de responsabilidade. No mesmo nível dos erros que nós mesmas as vezes cometemos na realização do nosso trabalho. Claro que se a pessoa ja deu vários sinais de ser negligente, então não deveria entregá-la a vida da sua criança.

Porém, na ausência de ‘perfeição’ nas babás, penso que não nos devemos esquecer de onde elas vêem:
  • Será que receberam a formação necessária para esse trabalho árduo e importante?
  • Será que elas têm acesso à informação correcta e a tempo para tomar as melhores decisões?
  • Será que elas estão suficientemente descansadas para poderem estar todo o dia alertas?
  • Será que ela recebe um salário minimamente digno que lhe permite alimentar-se de alimentos que lhe dão energia em casa?
  • Ou será que lhe falicitamos alimentação saudável e energética nas nossas casas?
  • Será que facilitamos um ambiente e condições de trabalho que lhes permitam ser felizes ou pelo menos levar energias positivas para a nossa casa?
  • Será que deixamos liberdade suficiente para que elas nos possam consultar se sentem que não entenderam bem as instruções que receberam?
  • Será que também nos expressamos claramente?

Poderia-se fazer mais? Hoje, eu gostaria de celebrar estas trabalhadoras e agradecer-lhes por facilitarem a nossa vida. Também gostaria de sugerir algumas dicas para quem gostaria de fazer algo mais para celebrar as babás (dentro das suas possibilidades):
  1. Certifica-te que a tua babá é maior de idade. Sejamos realistas, será que aquela sobrinha distante que fomos buscar na aldeia para cuidar das crianças à troco de poder estudar, irá realmente estudar e se sim, aproveitará alguma coisa? Se a fomos buscar para podermos regressar ao trabalho, provavelmente ela só poderá estudar a noite. E já sabemos que os níveis de violência (sexual) contra mulheres e raparigas no nosso país estão na ordem do dia. Se quiseres ajudar uma criança nos estudos, financia os estudos dela lá ao lado do carinho da família. Até, se poderes, em vez de pagar apenas os custos da matrícula, material escolar, uniforme e transporte, poderias também incluir apoio ao rancho da família, assim ajudarias a reduzir o risco de a família se sentir obrigada a casar a filha para ter uma boca a menos que alimentar. Estarías a dar uma espécie de bolsa familiar.
  2. Regista-lhe no INSS para que possa beneficiar de um mínimo de benefícios sociais sobretudo quando já não poder trabalhar para outras pessoas.
  3. Financia-lhe um curso como cuidadora infantil. Esse curso está disponível em Maputo e dura entre 6 meses a 1 ano. Assim ela terá maiores conhecimentos sobre cuidados de crianças e se calhar lhe permitirá desenvolver uma profissão que lhe será útil quando já ninguém a querer empregar pela idade.
  4. Dizem que o salário nunca é suficiente, mas procura pagar-lhe um salário acima das expectativas dela. As vezes o salário pode ser complementado com outros benefícios como horários ‘humanizados’, que lhe permitem ter tempo com a família dela também, um extra para os custos de transporte, um seguro de saúde, formação, etc. O importante é nos perguntarmos ‘quanto achamos que merecem receber essas senhoras que cuidam das nossas jóias?’ e nos colocarmos nos sapatos dela, ‘e se fosse eu no lugar dela, como é que gostaria de ser tratada?’
  5. Trata-lhe como gostas de ser tratada no trabalho – com o mesmo nível de respeito, consideração, confiança e liberdade. Do mesmo jeito que chamas atenção sobre os erros cometidos, elogia ou menciona as coisas bem feitas ou que gostaste.

Feliz dia 8 de Março!
Feliz día da mulher trabalhadora!
Obrigada babás!
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