A quem pertencem as minhas mamas?

Depois dos meus partos, o meu relacionamento com as minhas mamas mudou de formas inesperadas. Consequentemente, também mudou a forma como as vejo, como as sinto e como as desfruto. Mas também, a forma como a minha família nuclear (e as vezes a sociedade) se relaciona com as minhas mamas é nova e me dá a sensação as vezes de que as minhas mamas já não me pertencem e passaram a ser colectivas.

“A bebé está a chorar, dá-lhe lá a mama dela”
As expressões que usamos estão carregadíssimas de valor e, algumas das expressões que se usam com relação às mulheres que têm crianças parecem converter-nos em instrumentos. Veículos para gerar, parir e nutrir crianças. Algumas expressões só as ouvi pela primeira vez depois de ter tido a minha filha. Nas primeiras vezes que me disseram ‘a bebé está a chorar, dá-lhe a mama dela!’, senti-me confusa. Abri a minha camisa para dar-lhe de mamar, sentindo-me um pouco perdida ao tentar decifrar a frase que acabava de ouvir. A final as mamas não eram minhas? Quando é que as tinha perdido?

Só umas semanas depois é que consegui reagir e cada vez que alguém repetia aquela frase eu comecei a dizer ‘desculpe mas estas mamas são minhas, e eu permito que a minha bebé as utiliza para chegar ao leite que ela precisa’. E claro, recebia de volta olhares tão confusos como os meus quando descobri que a sociedade tentava roubar-me as mamas.

Sinto que preciso lembrar a sociedade que as minhas mamas são minhas. Eu escolhi amamentar (poderia legitimamente ter escolhido diferente) mas as mamas continuam sendo minhas. Eu empresto as minhas mamas às minhas crianças para elas poderem chegar ao leite que o meu corpo produz para elas. Eu poderia também ter optado por bombear o leite e alimentar-lhes através do biberão. Mas gosto do contacto físico e da conexão que estabelecemos no processo de amamentar – não lhes empresto a minha mama de forma incondicional não, eu também sinto prazer nesse acto, é uma troca. E, quando já não era necessário para a minha filha nem prazenteiro para mim, iniciei a desmamar-lhe e continuei a amamentar apenas ao meu filho.

  • Essa dança não acaba, as pessoas…familiares, amig@s, colegas de trabalho, de desconhecid@s têm sempre algo a dizer em relação às minhas mamas. Normalmente para imporem a visão delas de como eu as deveria utilizar. Cheguei a ouvir coisas como:
    Não é para parares de amamentar agora
    • Pelo menos amamenta durante 1 ano, é bom para o bebé
    • Ainda estás a amamentar. Não chega?
    • Como consegues amamentar uma criança que já tem dentes?
    • Não devias amamentar ao mesmo tempo duas crianças que não são gémeas, não é bom para as crianças ou porque a mais velha vai acabar o leite do mais novo ou ainda, porque vai estragar o leite
    • Essa criança já é grande, ainda precisa de mama?
    • Se amamentares por muito tempo as tuas mamas vão cair

Senhoras e senhores, permitam-me lembrar-vos uma vez mais que as minhas mamas são minhas e, não me dêem recomendações não solicitadas sobre elas, por favor!

Tocar….beijar….maminha
Mesmo quando não é amamentando, as minhas mamas parecem ter um efeito calmante e hipnotizante. A minha filha, a Siyanda já não mama mas quando está cansada, gosta de adormecer a tocar os meus mamilos. Algumas vezes os meus mamilos parecem ser a droga que ela precisa para fechar os olhos e inclusive fica agressiva quando não consegue chegar ao mamilo, porque tenho uma roupa que não lhe facilita o acesso ou porque haja qualquer coisa à impedir-a de chegar às mamas. O meu filho, o Dhambo ainda mama e também gosta de tocar e acariciar o mamilo que se encontra livre enquanto ele mama. Muitas vezes tenho que gerir as brigas entre ambas porque as mãozinhas delas cruzam-se na mama que não está na boca do Dhambo. Essas brigas as vezes são tão intensas que provocam faísca e acabamos precisando de uns minutos para todo mundo se acalmar.

As minhas crianças sentem uma atracão tanta pelas minhas mamas que já não posso andar nua pela casa. E não é porque as minhas mamas  agora abanam mais do que abanavam antes, mas porque as minhas crianças literalmente me assediam. Quando a Siyanda vê as mamas expostas fica agitada – uma mistura de felicidade e nervosismo. As vezes repete aos gritos ‘maminha, maminha’, noutras vezes pede para tocar ‘um bocadinho’, indicando o tamanho esticando os dedos indicador e polegar. Mas quase sempre pede para beijar as mamas, ‘mamã, beijo maminha; beijo mamã!’ e persegue-me pela casa.

Quando me apetece, deixo ela beijar algum ponto da mama o que normalmente resultam em gritos de excitação ou em gargalhadas. O melhor prémio para ela é beijar os mamilos e tenta de vez em quando, quando acha que estou distraída chupar-os Está claro que se dependesse dela, ela ainda estaria a mamar.

Quando o Dhambo vê as mamas, ele sorri amplamente e os olhos dele brilham, segue-me fazendo um som como se estivesse a aquecer o motor de uma mota brinquedo. Praticamente não me posso sentar, se não ele ataca logo as mamas. Parece ser que de momento, sobretudo se estiver com as minhas crianças, não poderei voltar a fazer top-less nas praias.

O toque no sexo
Na relação íntima com o meu namorado, o papel das minhas mamas também mudou. Os seios, incluindo os mamilos sempre foram áreas erógenas para mim, sempre desfrutei de carícias nessa área no geral e durante o sexo. Mas, no primeiro ano depois do nascimento da Siyanda essa área se converteu em zona altamente proibida. As minhas mamas e mamilos tinham ficado tão sensíveis (fisicamente e mentalmente) que os dedos do meu namorado não podiam chegar perto nem para afugentar um mosquito. Qualquer toque dele nos seios, irritava-me bastante.

Depois do nascimento da Siyanda, fiquei com umas mamas gigantes, brilhantes, atraentes e o meu namorado que como a filha e o filho se sentia hipnotizado por elas, queria tocar, chupar, beijar e… teve que se contentar com algumas poucas ocasiões em que se calhar eu estava suficientemente relaxada e lhe deixava chegar perto das mamas. Nós nunca conversamos profundamente sobre o que terá acontecido e, com o tempo essa irritação passou e voltei a ter vontade de desfrutar das carícias às mamas.

Mas nessa altura, surgiu outra situação. Não sei se por preconceitos relacionados com o sexo, me parecia muito estranho ‘utilizar’ as mamas para ter prazer sexual e umas horas depois amamentar com as mesmas mamas. As mãos durante o sexo movem-se livremente e, me preocupava também que acabassem lá fluidos que depois fossem parar na boca d@s bebés. Então, durante um tempo, mesmo desejando o toque, eu não nos permiti desfrutar desse prazer.

Ainda me pergunto porquê. Será que no meu subconsciente eu via o sexo como algo sujo? O tema dos fluidos não deveria ser um problema porque posso lavar as mamas antes de amamentar. Porque será que me dava impressão? E qual era o problema se o meu namorado chupasse os meus mamilos e depois as crianças mamassem? As vezes eles e elas partilham talheres, beijam-se na boca, transferem comida da boca de uns para outros/as. Qual seria a diferença?

Na verdade, esta é uma das áreas que tenho menos resolvida. Ainda não estou totalmente confortável com as minhas mamas no que concerne ao prazer sexual. Penso que ainda devo eliminar alguns preconceitos que rondam no meu subconsciente.

E por fim…
A maneira como actualmente me relaciono com e vejo as minhas mamas, e ao mesmo tempo as expectativas que a minha família e sociedade criaram em relação à elas, tem sido um descobrimento interessante. As vezes produzindo simplesmente curiosidade e noutras alguma frustração. E ainda nem estamos a conversar sobre as expectativas em relação à estética! O que está claro para mim, e se calhar algumas de vocês se identifiquem com a minha experiência, é que se não fico atenta, as minhas mamas podem facilmente pertencer à todo mundo menos a mim. E, que para recuperar e/ou manter a propriedade delas, necessito passar por um processo de reflexão, de aumento do meu auto-conhecimento e da minha consciência. Creio que preciso ainda superar crenças limitadoras sobre coisas como a função das mamas, ou o desfrute do sexo e da maternidade sem limites.

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