Carta 2: As fraldas sujas não têm pernas

29 de Novembro de 2018

Querido Cossa,

Como é que correu o teu dia?

Gostaria de acabar um tema sobre o qual começamos a conversar, mas não conseguimos terminar.

Acho muito bom que participas no cuidado das nossas crianças mudando as fraldas delas, quando necessário. Essa tarefa te permite conectar com as nossas crianças de maneiras que vocês desfrutem uns dos outros. Por exemplo, é engraçado ver o nosso filho a dar gargalhadas quando está com o rabinho ao ar (acho que ele ha-de gostar de ir às praias nudistas). Ou as corridas que temos que fazer para segurar uma das nossas filhas porque ela foge quando é chamada para mudar a fralda. Na minha opinião, é um privilégio poder cuidar dessas necessidades básicas delas porque nos permite estabelecer uma conexão onde nos retro-alimentamos com gratidão e carinho. Esta fase passará mais rápido do que pensamos.

Porém querido, na maior parte das vezes deixas as fraldas sujas em cima do armário onde colocamos o trocador de fraldas. Não acabo de entender o teu plano com as fraldas sujas. Qual é mesmo a tua expectativa?

  1. Que as crianças irão deitar fora as fraldas?
  2. Que eu irei retirar as fraldas?
  3. Ou que as fraldas andarão sozinhas para a lata de lixo?

Que eu saiba, as fraldas ainda não têm pernas. Por esse motivo, deves sim deitar as fraldas sujas na lata de lixo. Se ficas atrapalhado ao ter que gerir varias coisas podes experimentar o meu método e ver se funciona para ti. Eu normalmente depois de mudar as fraldas ponho as crianças que sabem andar no chão e as que ainda não andam, no berço ou no ‘ginásio’ no chão. Depois volto para o quarto, pego na fralda, meto na lata de lixo e lavo as mãos.

Se este sistema não funciona para ti, inventa outro, o importante é deitares fora as fraldas sujas ou melhor ainda, inventares fraldas com pernas que possam caminhar sozinhas à lata de lixo.

Com amor,

Eu

 

Carta 1: Partilha de responsabilidades

15 de Setembro de 2018

Querido Cossa,

Como é que estás?

Espero que esta carta te encontre cheio de boas vibes.

Decidi escrever-te esta carta porque nem sempre consigo expressar verbalmente como me sinto de forma construtiva. Existem assuntos sobre os quais gostaria de te explicar melhor o meu ponto de vista. Por outro lado, nós decidimos partilhar também as responsabilidades reprodutoras (cuidado das crianças, idos@s, doentes, cuidado da casa, etc.) e, acho necessário continuarmos a conversar sobre as nossas expectativas quando falamos de co-responsabilidade nessa área, de forma a encontrarmos fórmulas ‘ganhar-ganhar’ que facilitem as nossas vidas.

Os assuntos são muitos e não poderei expressá-los numa única carta, por esse motivo irei te escrevendo cartas periódicas. Se não te importas, vou deixar as cartas na gaveta das tuas cuecas. Por favor responde no teu tempo, por escrito ou verbalmente.

O primeiro assunto que gostaria de abordar contigo, é que gostaria que me ajudasses a perceber qual é a tua história com a arrumação da roupa das crianças. Tenho a impressão que as vezes achas que só eu é que devo controlar esse assunto. Se nós decidimos junt@s como arrumar o quarto das crianças, que cómoda, que armário ou guarda-fato colocar no quarto delas e porquê; se arrumamos a roupa pela primeira vez junt@s; e se a roupa que arrumei sozinha depois te fiz um tour para mostrar-te onde as coisas ficam – como é que cada vez que precisas de alguma coisa das crianças tens que perguntar “querida onde é que está a camisola do miúdo?” Continue reading “Carta 1: Partilha de responsabilidades”