HAAA…! O que faço com tantos conselhos?

Não estava tão consciente disto antes de ter a minha bebé, há tanta gente predisposta a dar conselhos que não foram solicitados sobre a gravidez, @s bebés e as crianças. As vezes parece algo compulsivo, olhou para ti ou para @ bebé ou viu a forma como deste de mamar e PAM…’devias fazer isto’ ou ‘porque não fazes assim?’

Provavelmente estas ‘conselheiras e conselheiros compulsivos’ sejam dessa forma com a melhor das intenções e achando que estão a ajudar. As vezes os conselhos são constantes e vindo de muitas frentes o que não dá tempo de reflectir sobre eles e decidir se segui-los ou não, ou simplesmente ficamos desbordadas de conselhos que acabamos ficando confundidas. Noutras vezes a sugestão é apresentada tecnicamente como conselho, mas na realidade é uma ordem, @ conselheir@ está tão convicta do seu conselho que fica ofendida se tempos depois descobre que este não foi seguido.

Conselho de acordo com o Dicionário Online de Português significa “Recomendação; parecer, aviso que se oferece a alguém em relação ao que essa pessoa deve, ou não, fazer numa certa situação: vou seguir seu conselho!” Portanto, se damos um conselho, não deveríamos ter a expectativa de que este seja seguido, pois trata-se de uma opinião, não é uma prescrição médica (que também pode ser questionada). Porque será que @s conselheir@s compulsivos aparecem no nosso caminho? Será porque:

  • Pensam que a sua experiência como mães e pais foi tão perfeita que a formula que usaram é universal, funcionam para tod@s?
  • Os livros que estão a ler ou leram sobre cuidados de bebes e crianças lhes faz sentir com ‘autoridade técnica’ sobre o assunto?
  • Acham que não temos capacidade suficiente para cuidar da nossa criança?
  • Querem simplesmente meter-se na vida de outras pessoas?

Imagina que a tua bebé tem a pele do queixo seca como resultado de uma reação à algum alimento. Quando te deste conta da reação te informaste e procuraste ajuda profissional e estás a fazer o que a tua médica/o ou parteira recomendou mas os resultados ainda não são visíveis. Uns dias depois vais a um almoço em casa de uma tia quem, depois de te cumprimentar carrega na bebé, vê a pele do queixo seca e te diz ‘tens que pôr um creme grosso no queixo da bebé’. Uns minutos depois vem um primo, olha para a bebé e diz ‘devias hidratar o corpo da tua bebé com óleo de coco’. Quando chegam à mesa e está lá todo mundo sentado a tua cunhada carrega a bebé e diz ‘porquê não instalas um purificador de água nas torneiras da tua casa de banho? A água da nossa cidade tem muitos químicos e faz mal a pele sensível d@s bebés’.

A maior parte dos conselhos sobre como cuidar de bebés, por muitas boas intenções que tenham, muitas vezes vêm assim, crus, sem se saber o que realmente está acontecer e o mais importante, se estás a precisar de conselhos.

Esta prática me parece muito desempoderadora (diminui o valor da nossa força interior, sabedoria, escolhas e opinião). No meu caso, o bombardeio de conselhos me confunde e as vezes fico sem saber como fazer uso de tanta opinião além de me parecer uma falta de consideração pelas diferentes maneiras de fazer e pela minha capacidade para cuidar da minha bebé e de pedir ajuda quando sinta a necessidade.

Não acredito que exista uma maneira correcta e outra errada de cuidar e relacionar-se com as nossas bebés, acho que existem diferentes maneiras que funcionam melhor ou pior em diferentes bebés. Penso que a experimentação, o erro, e a prática vão nos ajudando a determinar a maneira que melhor funciona para a nossa bebé e para nós em cada fase de seu crescimento. Isso nos permitirá conhecer-nos melhor, à nossa bebé e nos dará a confiança suficiente de pedir ajuda e conselhos quando sentimos que precisamos. Os conselhos são bem vindos sim, quando são a nossa escolha.

O que fazer então quando nos encontramos na encruzilhada dos conselhos? Eu gostaria de compartilhar 4 estratégias que tenho usado com a esperança de serem úteis para quem se tem feito a mesma pergunta:

  1. Nas situações em que o conselho não têm nada a ver com o caso, é fruto de especulação ou interpretação da situação, explico para a pessoa que esse não é o caso da minha bebé e que já estou a tratar do assunto. E se a pessoa insistir, digo directamente que “nem me perguntou o que a bebé tinha como é que já sabe como tratar/resolver a situação” ou fico só a olhar para a pessoa (com a esperança de ter feito um olhar que a/o deixe tão incomoda/o como fico com os conselhos não solicitados.
  2. Há vezes que o que funciona é exercitar a arte de deixar a mensagem entrar por um ouvido e sair imediatamente pelo outro.
  3. Em algumas ocasiões digo ‘sim, sim’ a conselhos que não penso se quer em reflectir sobre eles, quanto menos seguir. Esta é a estratégia que menos gosto porque penso que ai sou menos eu e tento agradar a pessoa que me dá o conselho. Espero, pouco a pouco ir abandonando esta estratégia, mas de momento, as vezes funciona.
  4. Em última instancia digo, ‘desculpa, mas não lhe pedi conselhos sobre esse assunto’ e nestes casos tenho que estar preparada para gerir a mudança de clima porque a/o conselheir@ compulsiv@ normalmente fica ofendid@.

Acho que quando nos encontramos desbordadas de conselhos que não necessitamos é necessário acreditarmos em nós mesmas. Não porque temos uma capacidade inata de saber o que a nossa bebé precisa mas porque a nossa caminhada, experiência, erros e acertos com essa criança construirão o conforto, conhecimento e prática necessários para tomar decisões desde nós mesmas, desde o nosso centro. A combinação destes ingredientes com a sabedoria da nossa intuição pode ser uma vacina eficaz contra os conselhos indesejados.

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