A experiência física da maternidade biológica resultou numa explosão de sensações, sentimentos e sentires novos. Sentir o crescimento de outro ser humano dentro do meu corpo foi ao mesmo tempo mágico e como que uma experiência extraterrestre. Observar a minha capacidade de produzir algo que seria o alimento exclusivo de outro ser humano durante um determinado tempo e observar esse ser humano desenvolver-se apenas com esse alimento foi hipnotizante. Mas o que eu menos esperava, a minha maior surpresa na experiência maternal, foi sentir prazer sexual realizando algumas das funções biológicas da maternidade
Onde as coisas se encaixam
Não sei se elas estavam preparadas para isso, mas as minhas mamas participaram numa super maratona exercendo o papel de nutrícia, fonte de alimento e conforto para as minhas crianças. Eu sou daquelas mulheres sortudas que escolheu amamentar e felizmente produzia abundante leite para responder á essa decisão. Decidi fazer o aleitamento exclusivo durante os primeiros seis meses das minhas crianças e, continuar a amamentar até o primeiro ano e meio/ segundo ano.
As minhas crianças têm um ano e meio de diferença, quando o meu filho nasceu achei que era muito cedo para a minha filha desmamar – nem ela nem eu estávamos preparadas para a desconexão, então decidi amamentar as duas crianças em simultaneo. E, foi uma experiência muito interessante de conexão e carinho entre nós as três. Quando a minha filha aceitou que o meu filho não tinha planos de ir embora em breve, ela distribuiu as mamas e anunciou “esta mama é minha e aquela é do Dhambo”. O meu corpo produzia abundante leite, eu amamentava ambas crianças e bombeava leite para poder, de vez em quando, passar algum tempo fora de casa sem as crianças, sobretudo o meu filho que na altura só mamava. Não obstante, como consequência desse trabalho de tipo cadeia industrial acabei perdendo bastante peso, apesar de manter a energia necessária para fazer a maioria das coisas que precisava e desejava.
Quando a minha filha começou a mamar tive algumas complicações, por exemplo, os meus mamilos mantinham-se lisos e resistiam-se a formar o bico para facilitar o aleitamento dela. Com uma prótese mamaria, esse problema resolveu-se e depois veio a dor intensa. A abertura dos poros por onde o leite sai, no início é como uma ferida, e cada vez que a minha filha mamava, e quando recém nascida, eram muitas mamadas ao dia, eu sentia uma dor intensa e cortante, como se estivesse a tocar numa ferida com um objecto afiado. Felizmente mais ou menos um mês depois, essa dor passou e pude começar a desfrutar da experiência de amamentar. Com o meu filho foi diferente, como “fiz directa”, as mamas já estavam ´preparadas´ e o processo fluiu.
E, quando tudo estava a funcionar como eu esperava, abundante leite a ser produzido, mamilos menos anarquistas e indolores, comecei a sentir coisas que não esperava e que me surpreenderam muito. Primeiro assustei-me, depois neguei e finalmente rendi-me mais ou menos ao sentimento e às sensações.
Toma lá, dá cá!
A primeira vez que tive este sentimento, foi quando a minha filha tinha uns três meses. Nessa altura, ela começava a procurar alguma coisa para ocupar uma das mãos enquanto mamava. Ela movia a mão que estava livre, inicialmente acariciava a minha barriga ou o seio que não estivesse ´ocupado´, até que ela descobriu que podia meter a mão pela minha blusa e acabou chegando ao mamilo da mama livre. Ela acariciava a mama e o mamilo enquanto mamava e isso parecia agradar-lhe e não me incomodava. Era como se ela me estivesse a agradecer por proporcionar-lhe a nutrícia que ela precisava, acariciando-me.
Depois de algum tempo, na medida que ela ía tendo mais domínio das mãozinhas dela, as carícias foram ficando mais consistentes. E comecei a notar que essas carícias funcionavam como uma estimulação sexual. Eu ficava excitada com as carícias que ela fazia aos meus mamilos. Ela ía tocando os mamilos como se estivesse a brincar com um berlinde, as vezes com toques suaves, as vezes tocando como se estivesse a coçar e as vezes apenas apertando os mamilos como se os estivesse a espremer.
Os meus mamilos sempre fizeram parte das minhas zonas erógenas, mas sempre relacionei a activação dessa função com a prática do sexo (sozinha ou em companhia). Então, ser excitada pela minha bebé me causava muita confusão e ser excitada por uma bebé como parte dos rituais dela enquanto mamava, me causava mais confusão ainda. Nunca tinha ouvido falar dessa possibilidade, tinha sido mesmo apanhada de surpresa.
As minhas reações à essa experiência não foram lineares, imagino que representando ás diferentes interpretações que eu deveria dar ao que estava a acontecer. A minha primeira reação foi uma mistura de surpresa e susto. Por um lado eu não acreditava que estava a ser excitada pela minha bebé, e por outro lado, aquela sensação me parecia estar tão fora de lugar que pensei, “algo de errado deve se estar a passar comigo!”. A minha reação física era de afastar as mãos dela dos meus mamilos, as vezes suavemente e as vezes bruscamente, como se estivesse a afugentar uma mosca verde.
Mas a minha filha insistia em acariciar os meus mamilos enquanto mamava e as vezes olhava para mim como se dissesse, “relaxa, experimenta, vais gostar!” E como aquela situação toda ainda me parecia confusa, a minha mente decidiu tentar ignorar o que eu estava a sentir. Para enganar-me a mim mesma e brincar de fazer de contas que não estava a sentir nada, eu concentrava-me nalgum objecto a minha frente e descrevia mentalmente o mesmo. Mas claro, quando já não tinha nada mais a dizer-me sobre o tal objecto, a minha atenção voltava para a sensação que era estranha porém, prazenteira.
Eu me perguntava, mas o que pode ter de errado nesta experiência? É verdade que ela era nova para mim e que não tinha outras referencias de experiências semelhantes, mas porquê me assustava tanto? Depois de algumas reflexões, eu decidi deixar-me levar, permitir-me sentir esse prazer e observar-me. A verdade é que na medida que ia me questionando sobre a minha repulsa ao prazer sexual por essa via, fui me despindo de alguns moralismos sobre a sexualidade que eu carregava e carrego e que me limitam.
E quando decidi render-me e deixar-me sentir o que tinha que sentir, desfrutei desse prazer sem a necessidade de o definir ou explicar. O corpo é meu e se a minha sexualidade se ia expandir através de uma experiência física da maternidade, porquê não me dar essa liberdade ou se calhar, esse presente? O que aconteceu é que experimentei o que se calhar é uma das metas do sexo tantrico, desfrutar da caminhada independentemente do resultado. Tive muito poucos orgasmos, mas muitos momentos em que desfrutei do prazer de simplesmente estar acesa. Em algumas ocasiões poderia cruzar as pernas para poder apertar o meu clitoris, sem necessidade de chegar ao orgasmo, pelo menos não naquele momento. Não sei se isto também seria uma limitação. Se calhar!
Sororidade
Se a minha filha pudesse, ela viveria dentro da minha pele, ela gosta de tocar-me sempre que pode, sentar no meu colo à qualquer oportunidade, dormir comigo, abraçar-me e beijar-me. Hoje, ela tem três anos e sete meses e quando está cansada ou simplesmente quer tentar entrar na minha pele ela procura acariciar as minhas mamas, se consegue tocar e acariciar o mamilo, ela sente-se no paraíso. O contacto dela com os meus mamilos ainda me provoca o mesmo efeito e as vezes estou confortável ou tenho vontade e lhe deixo explorar e noutras afasto a mão dela e corto essa relação. Ela as vezes pede “só um pouquinho mamã”, e as vezes faz birras serias para tentar chegar ao paraíso.
Eu acredito que os nossos filhos e filhas nos escolhem como mães e pais para nos ajudarem a expandir, a sermos melhores versões de nós mesmos/as, aumentando a nossa consciência sobre quem somos, nossas crenças limitadoras e paradigmas que não nos permitem evoluir como seres humanos. Desde esse pressuposto, as vezes me pergunto se o universo está a usar a minha filha para que eu aprenda alguma coisa ampliando a minha consciência sobre a liberdade sexual, sobre o meu corpo e a minha sexualidade e as barreiras se calhar moralistas, que limitam a minha expansão nessa área da minha vida.
Se essa for a lição, reconheço que ainda não a aprendi totalmente, ainda não reflecti o suficiente sobre o que esta experiência significa para mim e como eu percebo e experimento simultaneamente o meu corpo, a minha sexualidade e a maternidade. Mas definitivamente estou disposta a explorar mais. Desejo realmente viver a minha sexualidade livremente, libertar o meu corpo dos tabus que ele foi aceitando como verdadeiros e estar mais no presente, observar o que estiver a sentir, sem julgar e sem expectativas de chegar a lugar nenhum.
Se calhar a minha filha veio alertar-me sobre um dos caminhos para eu experimentar o nirvana. Se assim for só posso dizer OBRIGADA FILHA! Que brote mais sororidade!